#642Coisas Descreva em detalhes a coisa mais entediante imaginável.

por - 17.9.15

"Eu cheguei a pouco tempo, já querendo ir embora. As pessoas ficavam quietas, como se qualquer suspiro alto fosse quebrar, em mil pedaços, aquele cenário. Eu franzi a testa para a mulher ao meu lado que não parava de chorar, ou tentava segurar o choro dentro de si. Revirei os olhos.
Pessoas e seus sentimentos...
Estava um tempo frio. Não frio de moletom. Frio de moletom; e casacos; e toucas; e luvas. 
Como em um filme, quando algo desse tipo acontece, estava chovendo. Bem, em dias assim sempre estava.
Sorri para aquilo, se ele soubesse que iria chover, com certeza teria dado um jeito de mudar a data.
A primeira vez que o vi foi neste mesmo lugar, mas em circunstâncias diferentes. Estava calor, mas não calor de 30 graus. Calor de protetor fator 50, sorvetes derretendo e falta de água.
Coloquei minha mão dentro do bolso da calça e senti o isqueiro, procurando em volta uma placa de não fume, abaixei a cabeça e soltei um riso. O isqueiro que ele havia me dado, sem gás.
Minhas pernas batiam uma na outra. Hiperatividade, ele disse uma vez. Tédio, respondi. 
Mas no momento, não era um tédio de não ter o que fazer, era um tédio de cansaço, de querer pular esse dia porque ficar olhando as pessoas abraçando umas as outras me entediava e me fazia querer acender o isqueiro que rodava em meus dedos mas, querendo ou não, as coisas não são do modo que deveriam ser. Não são do modo que eu queria que fossem. Então eu apenas revirava os olhos, para as pessoas que me jogavam sorrisos falsos, e batia as pernas, na esperança de acelerar as horas.
Não era a primeira vez que entrava aqui pelo mesmo motivo, na primeira, três ou quatro anos atrás, foi para ver meu pai, meses depois, minha prima.
Me pergunto se um dia iria me acostumar com o tédio que acontece nesses encontros de família.
Não, eu nunca me acostumaria com os olhares que eram direcionados para a pessoa e os murmúrios baixos que faziam. As palminhas nas costas como se passassem força, ou sei lá o que, através da palma da mão. A decoração horrível para algo nada comemorativo.
Eu esperava o homem terminar de falar suas palavras que nem eram ouvidas, talvez só por mim. Não. Nem por mim, porque eu estava concentrada demais no isqueiro que rodava em meu bolso.
As mulheres pareciam usar suas melhores roupas em eventos como esse, os homens conversavam com o pai dele e por um momento achei que estivessem falando do que havia acontecido mas não, ao me aproximar pude ouvir sobre bolsa de valores e a próxima reunião.
Eu cheguei perto e depositei meu isqueiro em sua mão, como se ele pudesse segurar. Sorri e me desculpei, saindo dali o mais depressa possível, porque soube que o tédio não era uma consequência de estar naquele lugar, era o incômodo e a dor que o faziam aparecer.
Não deveria ter me desculpado porque ele sabia que, para mim, velórios sempre são entediantes."

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Não deve ser a coisa mais entediante imaginável, mas meus personagens tem vida própria, o que posso fazer? Até que gostaria de descrever o que eu acho entendiante em mínimos detalhes mas deu nisso e é isso ^^
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